30/08/2016 11:23

“Os (des)limites da poesia:

expansão e passagem no Brasil contemporâneo”,

com o Prof. Gustavo Silveira Ribeiro (UFMG)

No dia 28 de setembro de 2016 – quarta-feira,

Palestra: às 9 horas, na sala 325 da PGLit*, no prédio B do CCE,

Minicurso: às 14:30 horas, na sala de aula 244 do prédio A do CCE*.

* a princípio. os locais serão confirmados.

Profa. Maria Aparecida Barbosa

aparecidabarbosaheidermann@gmail.com

Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras da UFSC

Pós-Graduação em Literatura

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Segue o resumo do simpósio do qual ele participa como coordenador no Congresso da Associação Brasileira de Literatura Comparada, na UERJ, em set/2016, e que norteia igualmente o evento na UFSC:

Poesia Contemporânea:

Reconfigurações do Sensível no Brasil e na América Latina

Coordenadores:

Gustavo Silveira Ribeiro, da UFMG

Tiago Guilherme Pinheiro (Universidade Estadual De Campinas)

Nicola Gavioli (Florida International University)

RESUMO: Ainda relativamente pouco estudadas, as relações que a poesia contemporânea do Brasil mantém com aquela que vem sendo escrita, no presente, no vasto e variado horizonte da América Latina, têm se revelado um dos seus aspectos mais interessantes e originais, uma rede intrincada de vasos comunicantes que têm marcado decisivamente o plano das leituras, as trocas afetivas e os projetos editorias da cena poética dos nossos dias. Chama a atenção também o modo como em muitos dos principais autores e poéticas que aí dialogam uma série de problemas comuns se coloca, dando ensejo à reflexão e ao trabalho crítico de natureza comparativa. Entendida como um campo de criação ao mesmo tempo específico e multitudinário, a poesia contemporânea desse novo território literário pode ser lida – historicamente e de modo especial no presente – como um espaço de passagens e traduções, de deslocamentos e negociações entre línguas e linguagens distintas, entre culturas, políticas e formas de vida; um tecido denso de relações que estão sempre em movimento e que, por isso mesmo, permitem pensar a transformação e o novo, o impensado e aquilo que ainda apenas está, no plano mesmo do pensamento, latente ou não configurado. Se se considerar também que a poesia, enquanto código e potência particular, pode ser compreendida como um intervalo, um entrelugar situado entre a paisagem e a consciência, isto é, configurado dupla e ambiguamente entre o som e o sentido, entre o impulso e a razão, seria produtivo pensar que ela, a poesia, permite ao mesmo tempo captar, de modo fantasmático e fugidio, as tensões e tremores (éticos, estéticos, sociais) mais recônditos da sua época, ao mesmo tempo em que é capaz de receber do passado mais remoto práticas, formas e estímulos que a fecunde e desloque, muitas vezes tornando-a anacrônica, atada não só ao seu tempo mais igualmente a muitos outros, por mais distantes que eles estejam. É nesse sentido que se deve entender a poesia como a operadora de uma gramática dos afetos, instância capaz de recolher e assimilar os desejos e temores do presente, transformando aquilo que é apenas sopro -aspiração informe e ainda não pronunciada – em palavra, em pequenas peças arquiváveis e móveis. Movendo-se assim entre o arcaico e o presente, a poesia contemporânea do Brasil e da América Latina tem sido capaz de absorver e problematizar os novos suportes (que, cada dia com mais intensidade, questionam os espaços tradicionais de escrita e difusão do material poético), do mesmo modo que mostra-se interessada e capaz de acolher a performance e as renovadas formas da poesia sonora. Ainda, é preciso lembrar do papel que vêm jogando nesse contexto as pesquisas e traduções de canções indígenas e tradicionais, sons e imagens que infiltram-se no universo da criação do presente de modo a expandi-lo e transtorná-lo. Diante desse quadro vário e em transformação permanente, é interessante propor a hipótese de que a poesia têm respondido a um quadro mais amplo de modificações profundas no campo da linguagem, das formas de vida e das contradições e possibilidade do corpo social. As modificações que tem sido possível notar no texto poético parecem repercutir (sem necessariamente representar, pois não se trata aqui de registro documental) três grandes questões que em nossa época se impõem à cultura de modo incontornável, ainda que não hegemônico: a) o sentido de urgência e o risco da catástrofe trazidos à tona pelo antropoceno, uma novo período para a vida do e no planeta segundo o qual tudo o que se conhece está ameaçado de cancelamento e extinção devido a mudanças profundas nas condições climáticas da terra; b) as mudanças nas noções e formas de vida, ocasionadas pelos experimentos científicos muito sofisticados, bem como pela possibilidade crescente da manipulação genética e suas consequências ainda imprevisíveis; c) a multiplicação dos dispositivos tecnológicos, que a um só tempo ampliam a capacidade e a velocidade da comunicação e do trabalho, bem como cerceiam a liberdade e o anonimato ao servir de suporte para o controle quase total sobre indivíduos e comunidades inteiras. Como se vê, está-se diante a uma verdadeira reorganização geral do campo do sensível, à qual a poesia brasileira e latino-americana tem procurado responder criticamente, bem como oferecer alternativas para o pensamento e para a própria vida, constituindo-se, muitas vezes, como possibilidade distinta para o convívio comunitário, a ação política e a experiência estética. É objetivo deste simpósio reunir os pesquisadores interessados em refletir sobre o papel da poesia contemporânea diante dessas novas formas do sensível, seja a partir da leitura de obras e autores individuais, seja a partir de panoramas e leituras comparativas que possam colocar a descoberto as questões que a cena do presente guarda e constrói.

PALAVRAS-CHAVE: Poesia; Contemporâneo; Crítica; Transdisciplinaridade.